domingo, 15 de julho de 2007

Devemos Fazer a Diferença na Vida das Pessoas que Conhecemos...

foto ilustrativa da região


Certa vez em minha cidade de origem, conheci 02 garotos, um deles com 09 anos de idade se chamava “A” e seu irmão com 05 anos de idade se chamava “L”, não vou dar seus nomes verdadeiros para manter sua privacidade, mas ambos moravam na periferia da cidade de Belém do Pará e vendiam amendoim em uma região muito badalada onde amigos se reuniam a noite para conversar e se encontrar.

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O mais velho, “A”, era muito articulado e sabia falar muito bem, nem parecia ter apenas 09 anos, já o menor, “L”, tinha todas as tolices e manhas que eram próprias da idade dele, com o passar do tempo ficamos amigos e eles sentavam para conversar conosco e contar seus sofrimentos e angustias.
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Eles vendiam amendoim pq precisavam sustentar a família: mãe, padrasto e mais 04 irmãos menores. Infelizmente tanto o padrasto quanto a mãe dos garotos eram alcoólatras e se por ventura eles não chegassem em casa com o dinheiro da venda dos amendoins os dois garotos apanhavam muito, e toda a renda daquela família vinha destes dois meninos, que por trabalharem não podiam freqüentar a escola, e isso era algo que ambos queriam, principalmente “A”.
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Bom, o tempo foi passando, “A” e “L” foram crescendo, os problemas em casa aumentando e nossa amizade ficando ainda mais próxima. Muitas vezes tentamos conversar com a mãe dos garotos, certa vez chegamos a conseguir levar “A” para passar uma temporada na praia conosco, ele não sabia o que era se divertir. O primeiro brinquedo que “A” ganhou na vida dele, fui eu que dei a ele, foi uma cena emocionante chorei junto com ele, até pq eu não sabia que ele nunca havia recebido nenhum brinquedo e muito menos presente de aniversário, foi realmente inesquecível! E isso também aconteceu com a primeira roupa nova, coisa que ele nunca havia tido, uma roupa comprada para ele!
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O desejo deste garoto por mudar de vida foi aumentando conforme íamos conversando, o levamos para nossa igreja, o levávamos para passear conosco, meio que ele virou o “mascote querido” de meu grupo de amigos. Nos divertimos muito juntos, e sempre procurávamos orientá-lo no caminho do bem, no entanto “A” cresceu e nunca se envolveu com nada de errado, era um garotinho de pouca idade bem ajuizado que cuidava dos irmãos menores com muito zelo. Chegou o tempo em que o padrasto dos garotos, começou a tentar abusar sexualmente das irmãzinhas deles, que eram muito pequeninhas, e era ele “A”, ainda criança, que as defendia.

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A mãe estava cada dia mais alcoólatra e violenta. Então imagine você o inferno que estas crianças viviam, sem dizer que a casa possuía apenas 02 cômodos, com banheiro externo e sem porta, mal eles tinham o que comer, e vestiam e calçavam o que os outros já não queriam mais.

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Certo dia “A” apareceu em minha casa todo machucado em especial o braço direito, quando olhei fiquei horrorizada, era uma fratura exposta, o pequenino sangrava muito e conseguíamos ver seu osso para fora da pele, foi uma cena terrível! Isso foi o resultado de uma surra que ele pegou da própria mãe, que retirou uma tabua da cerca da casa e quebrou no braço do garoto, pq ele foi assaltado e voltou pra casa sem dinheiro.
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O que fizemos?

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O levamos até o Conselho Tutelar de minha cidade natal, falamos com a Assistente Social, ela tomou conta dele, o medicou e o curou. O Conselho Tutelar abrigou “A” por muitos dias para ficar em observação e esperar sua total recuperação, e sua mãe foi chamada para uma conversa, onde o Conselho ameaçou tirar dela todos os filhos e enviá-los para a adoção caso não mudasse sua postura diante das crianças.

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E mesmo sob ameaça, ela mudou mesmo, colocou o padrasto para fora de casa, começou também a trabalhar e colocou as crianças na escola.
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Hoje “A” está um homem, ele está casado, com um filho, é evangélico, não bebe, não fuma, nunca se drogou, nem roubou ninguém, mesmo com todas as dificuldades. Continua cuidando dos irmãos menores e os aconselhando para andar no caminho do bem como fazíamos com ele, e quando a mãe esquece e volta ser violenta ele lembra que o Conselho Tutelar ainda existe fazendo ela se arrepender.
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Foi muito importante denunciar ao Conselho Tutelar a situação em que estas crianças viviam e a denuncia, não mudou financeiramente a vidinha de “A” e “L”, mas deu a eles a oportunidade que poder viver sem violência e com dignidade dentro da situação financeira deles mesmos, e assim seguirem suas vidas e formarem suas famílias e nelas fazerem diferente do que foi feito com eles. A ultima noticia que tive deles, “L” estava formando a sua própria família, seguindo o exemplo do irmão “A”.

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O Senhor me ensinou com o exemplo da vida de “A” e ”L”, que muitas vezes somos colocados em locais e em momentos estrategicamente pensados por Deus para fazer a diferença na vida dos seus filhos e se nos acovardamos ou simplesmente dizemos “oh garoto sai fora daqui, não quero seu amendoim” perdemos a oportunidade de sermos não somente instrumento na Obra de Deus, mas tb de fazermos amizades preciosas que talvez no futuro possam a vir a nos ajudar ou nos dar o alento certo no momento de grande dificuldade.

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Amo esses meninos, e fico feliz e grata ao Senhor por hoje eles serem homens e homens de bem, eu faria tudo novamente, mas faria melhor do que fiz por eles, pq hoje tenho mais experiência de vida do que naquela época em que eu era uma garota somente.

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